Jesus, no Sermão do Monte, eleva o desafio de nossa campanha nas batalhas da vida e coloca a medida de sua expectativa na estatura de perfeição do Pai, como um processo que dura a vida toda, quando disse: “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mt 5.48).
Parta sermos perfeitos aos olhos do Pai, temos de vencer primeiro a nós mesmos, nas lutas de dentro; e depois, as circunstâncias malignas da vida, nas lutas de fora. A perfeição seria o aporte das virtudes de Deus em nossa caminhada, até sermos vistos com “a cara do Pai”, ou semelhantes a Jesus Cristo. (Ef 4.13)
Quando o jovem rico procurou Jesus querendo saber o que fazer para herdar a vida eterna, Jesus o desafiou a percorrer o caminho da perfeição: “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me” (Mt 19.21).
A perfeição lhe seria atribuída na medida da caminhada em seguir ao Mestre, mas ele não quis ser perfeito; antes saiu triste, porque a riqueza que acumulara lhe possuíra o coração e encarcerara sua vida.
Somos todos desafiados a dar um “salto” de qualidade na nossa experiência com Deus, segundo esta palavra: “Por isso, pondo de parte os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para o que é perfeito…” (Hb 6.1).
O próprio Abraão, o nosso pai na fé, quando começou a andar com Deus, recebeu Dele este desafio: “Anda na minha presença e sê perfeito” (Gn 17.1).
Essa perspectiva divina concernente à nossa perfeição pode nos chocar num primeiro momento, se não atentarmos ao que exatamente está sendo proposto. Por isso precisamos saber o que realmente significa ser perfeito. Perfeito vem do Latim “perfectu”.
O prefixo “per” traz consigo a ideia de intensidade e totalidade, além de ampliar o alcance de uma palavra. Uma das particularidades das palavras formadas com o prefixo per é que mostra algo que vai além das expectativas: perene, permanente, persuasão, perseverança, perecer, perdição etc.
Quando uma coisa pode durar mais do que seria de se esperar, ela é perdurável. Quando alguém perde mais que o razoável, é perdulário. Quando algo permanece para além das expectativas, é permanente. Se vai passar a noite toda, é um pernoite. Se o suadir é completo, é uma persuasão. Se a disciplina em continuar é mais severa, é perseverante. Se alguém deu a outrem completa absolvição, é perdão.
A palavra “fectu” significa “feito”. Feito é um adjetivo cujo significado indica algo realizado, consumado, ou uma situação já constituída.
Desse modo, a palavra perfectu ou perfeito significa: aquilo que foi feito completamente, algo realizado até o fim, acabado, terminado; algo que fecha um ciclo proposto, findo o qual se tem o processo por terminado, sem falhas ou lacunas, sem defeito; enfim, a situação perfeita, impecável e excelente.
A graça de Deus é cíclica e multiforme. Ciclo (do grego, kýklos) significa uma série de fenômenos que se renovam de forma constante. Na vida cristã, a graça opera de múltiplas formas e cada operação tem um ciclo, o qual deve ser completado, para se obter os resultados propostos na vontade de Deus. Quando este ciclo termina é preciso passar para o próximo, e assim sucessivamente. (1Pe 4.10)
Uma pessoa “perfeita” não existe neste mundo de meu Deus. Só Jesus foi completo, puro, sem nenhuma falha. Mas nós podemos viver cada ciclo da graça que nos for dada de uma forma completa, plena. (Mt 21.16)
Obviamente, a perfeição total, como proposta na salvação em Cristo, só se concretizará a partir do nosso encontro com o Senhor nos ares, quando estaremos em corpos glorificados. (1Ts 4.17)
Então, quando estivermos com o Senhor, teremos a oportunidade de crescer até atingir a plenitude de varão perfeito, quando tudo terá a marca da excelência total. Estaremos perfeitos aos olhos do Pai porque, tal como Jesus, que tem “a cara do Pai”, nós seremos.
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém