Descubra o valor que a vida tem

O show estava lotado e seguiu freneticamente ao seu final apoteótico. Foi então que o famoso guitarrista Jimi Hendrix, num ato de fúria e desespero incontidos, destruiu sua guitarra no palco. A plateia gritou e aplaudiu, mas os aplausos frenéticos pararam subitamente quando Jimi caiu de joelhos, permanecendo imóvel. Pouco depois, ele quebrou o silêncio dizendo: “Se você conhece a paz verdadeira, quero me encontrar com você nos bastidores”. Surpreendentemente, ninguém respondeu ao seu apelo. Jimi morreu dias depois de overdose de drogas, aos 27 anos de idade, deixando um bilhete de suicídio.

O que teria acontecido se alguém tivesse ido com uma palavra sobre a paz verdadeira ao seu camarim? Faltou tão pouco…

Bem, geralmente não se pensa muito na importância das pequeninas coisas da vida. Que é um botão, um alfinete? Entretanto, podem segurar um vestido que cai, um papel que ia se perder e do qual, às vezes, dependeria a sorte de uma família. Que coisa pequenina é uma palavra! Mas, dita a um bom propósito, é suficiente para impedir uma queda, reparar uma falta, colocar um desvario de volta à sanidade, salvar uma vida. 

Pouca coisa, enfim, é uma lágrima, e ela pode aplacar a cólera, acalmar a dor, despertar o arrependimento, restabelecer a felicidade. Isso torna culpável o nosso desdém, quando dizemos assim: “Isso não tem valor; é como um alfinete, é só uma palavra, não passa de um minuto”. Mas os minutos é que compõem as horas do dia.

É admirável ver como os pequeninos acontecimentos da vida diária tendem para o nosso bem ou mal, muito embora, no momento, nem o percebamos. Sabemos que, quando o escultor começa seu trabalho, com golpes rijos ele tira de um bloco maciço grandes pedaços. Cada golpe faz muita diferença. Porém, quando a escultura está quase pronta, ele toma o pequeno cinzel e tira apenas partículas. Quase não se vê a diferença; mas o escultor trabalha com toda a arte e habilidade; e assim conclui a sua obra. 

Portanto, chega um tempo em que temos de pensar a respeito do valor que damos aos eventos da nossa vida, principalmente os que denominamos “pequenos”, e também às pessoas, inclusive àquelas com as quais pouco nos importamos. Não o “valor” em termos monetários, mas na proporção de sua qualidade e importância e no que a sua conquista representou. 

A vida só pode ser entendida quando olhamos para trás. Mas só pode ser vivida em olharmos para frente. Portanto, temos a necessidade de olhar para trás e tomar atenção para o rastro que deixamos na vida. Nessa hora, a própria história nos cobrará uma resposta: O que realmente valeu a pena eu ter vivido? Que valor eu dei à vida que Deus me deu?

Isso aconteceu com o patriarca Jacó, na sua imigração ao Egito, cujo filho José era o Governador. Jacó teve um encontro com o Faraó, que lhe perguntou: “Quantos são os dias dos anos da tua vida?”. E Jacó lhe respondeu: “Poucos e maus foram os dias dos anos da minha vida” (Gn 47.8,9). E ele era um idoso de 130 anos. Trocando em miúdos, Faraó não estava tratando de cronologia; ele só queria saber o quanto a vida de Jacó tinha valido a pena. A resposta de Jacó é esclarecedora: os dias que realmente valeram a pena foram bem poucos. De fato, basta ler a narrativa bíblica para constatar.

O que mais vale a pena em termos de experiências de vida são aquelas justas situações sobre as quais dizemos de alma limpa: “Eu faria tudo de novo”. Nada a retocar, nada a acrescentar. Sobre a pessoa companheira da nossa vida, depois de anos de relacionamento conjugal, sabe-se que foi ideal quando se pode dizer: “Eu me casaria de novo”. E por aí vai… 

Infelizmente, há quem só pensará em valorizar o que tem quando vier a perder. Quando o casamento acaba por causa de um relacionamento fortuito, quando os filhos vão embora, quando vier a falência etc. 

Alguns, por não pensarem a partir do valor das pessoas, e sim das coisas, sacrificam tudo o mais para obterem “sucesso”, quer isso seja traduzido em fama, dinheiro, poder etc. Ao focarem o “ter” e não o “ser”, talvez seja tarde demais quando o buraco existencial trouxer a cobrança da conta “impagável”; e então lhe faltarem amigos, família, amor e paz. Porque é isso que tem um imenso valor, que nenhum preço pode estipular.

Faça um balanço, e descubra enquanto é tempo que a felicidade finda estando nas coisas pequenas e simples ao alcance de todos, não nas sofisticações que são privilégio de poucos. 

Jimmy Hendrix teve tudo, e isso virou nada. Se ele soubesse e cresse que a vida e a alegria de viver estão em Jesus Cristo, esse “pouco” se tornaria tudo na sua vida e o seu maior tesouro. Sua alma estaria pacificada pela paz de Cristo que excede todo o entendimento. Ele teria, finalmente, descoberto o valor que a vida tem.

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